entrevista com o nosso Gonzaga de Garanhuns, cordelista, escritor e compositor. Gonzaga é um dos ícones da cultura garanhuense e porque não dizer do Nordeste. São quase quatro décadas dedicadas à poesia e a música, seja nos folhetos de cordéis, em seus livros ou nas suas composições, Gonzaga de Garanhuns é um desses artistas em que sua cidade natal está na raiz de suas produções. Agraciado com mérito com a maior condecoração cultural de Garanhuns, o Anum de Ouro, estatueta concedida aos artistas que com os seus trabalham elevam a cultura de Garanhuns, Gonzaga apesar dos seus trinta e sete anos de carreira não se deixa levar pela vaidade, mas parece um debutante na cultura, isso pelo seu entusiasmo e inquietação artística, sempre arrancando aplausos do seu público, seja nos lançamento dos seus livros ou cantando seus reisados. È esse respeitado e admirado artista garanhuense, de uma simplicidade contagiosa, mas de um valor artístico imensurável que nos conta hoje sua luta pela cultura de Garanhuns. Falaê Gonzaga patrimônio cultural de Garanhuns.
1) O senhor é filho natural de Garanhuns?
Falaê- Sou filho natural de Garanhuns, nasci no sítio Sussuarana, zona rural de Garanhuns em 8 de junho de 1943 hoje pertence ao município de São João, mas a época a cidade vizinha era distrito de Garanhuns.
2) Como surgiu o interesse pela literatura de cordel?
Falaê – O interesse surgiu quando lendo o Diário de Pernambuco um dos artigos me chamou a atenção, ele falava sobre a literatura de cordel, resolvi então escrever o meu primeiro cordel, isso em 1973, intitulado “Lampião em Serrinha”, hoje Paranatama, isso a partir do estudo de rimas e métricas, daí por diante não parei mais de escrever os folhetos de cordéis.
3) O senhor já escreveu mais de 250 folhetos de cordéis com temas religiosos, sátiras de cunho social e político, de personalidades, cangaço, históricos, humorísticos e temas educativos, enfim um grande acervo publicado. Como ocorre esse processo de criação?
Falaê – É algo inexplicável, me vem a esmo, eu penso em algum tema e começo a escrever, essa inspiração acontece a qualquer hora do dia e muitas vezes em sonhos vem a história e quando a escrevo já vão saindo as rimas e as métricas, nessa hora eu me transporto para o que estou escrevendo, coisa que como já frisei não sei como explicar.
4) Com o cordel Lampião em Serrinha o senhor já demonstrava uma tendência para o cordel de relato histórico, por se tratar de fato real, Gonzaga de Garanhuns tem preferência em escrever cordéis com temas de ficção ou históricos?
Falaê – A minha preferência é pelos dois, porque o artista não pode perder a idéia, e sempre deve está experimentando novos desafios, assim surge um material original e inédito.
5) Os seus trabalhos com cordéis históricos são verdadeiras fontes de pesquisas, pois relatam fatos históricos de Garanhuns, com a origem da nossa cidade, a Hecatombe de Garanhuns, a morte de Dom Expedito Lopes e também fatos recentes. Como é feito esse trabalho de pesquisa e quais as dificuldades encontradas?
Falaê –No meu trabalho de pesquisas busco todo tipo de documentos que possam trazer informações sobre o acontecimento, livros, revistas, jornais e também depoimentos de pessoas que conhecem a História da cidade, uma dessas fontes é o Doutor Ivaldo Dourado, a principal dificuldade é a falta desses documentos para que possamos realizar as pesquisas.
6) Como o senhor se sente sendo considerado um dos melhores cordelistas do nordeste pelo holandês Joseph M. Luyten, pesquisador da literatura de cordel e um dos maiores divulgadores do folclore e da cultura popular brasileira?
Falaê – Apesar de Joseph Luyten ter feito esse elogio, eu não me sinto o melhor, eu sou um cordelista simples comparado a um iniciante.
7) Ser apontado com um dos melhores cordelistas do Nordeste é o resultado de muita dedicação, perseverança e, sobretudo o reconhecimento do público, e isso pode ser evidenciado pela repercussão do seu trabalho. Até onde chegaram os cordéis de Gonzaga de Garanhuns?
Falaê – Meu cordéis chegaram ao museu Internacional do Novo México, Santa Fé, Estados Unidos através de J. Borges, Museu de Etnologia em Osaka no Japão através de Joseph Luyten, a Casa Fundação Rui Barbosa no Rio de Janeiro, Unicordel ( União dos Cordelistas de Pernambuco) movimento de promoção e defesa da poesia popular com sede no Recife, Museu do Estado de Pernambuco, Museu do cordel de Olegário Fernandes em Caruaru e tantos outros por este Brasil.
8) A xilogravura é peculiar nos cordéis, mas a cada dia a computação gráfica vem sendo usada pelos cordelistas nas ilustrações de suas capas, a xilogravura pode aos pouco desaparecer?
Falaê – Não que venha a desaparecer, temos ainda muitos xilógrafos, mas infelizmente em Garanhuns apesar das oficinas no Festival de Inverno ter vários participantes parece que eles não querem se profissionalizar, gostaria que todas as capas dos meus cordéis fossem em xilogravura, mas não temos profissionais na cidade, pode ser que com a Lei 12. 198 que foi sancionada pelo presidente Lula no dia 14 de janeiro deste ano que reconhece as atividades repentistas, escritores da literatura de cordel e outras atividades que as entidades de classe possam reconhecer, tornando-os profissionais possa ser que sujam novos xilógrafos.
09) No Palco da Cultura Popular do Festival de Inverno sempre acontece apresentações de cordelistas de Pernambuco e dos participantes das oficinas de cordéis, surgiram novos adeptos da literatura de cordel em Garanhuns?
Falaê – Vários, mas não se interessam em divulgar os seus trabalhos, são cordelistas bons, agora que a lei ampara a profissão de cordelistas regido pela CLT, acredito que novos profissionais sairão do anonimato e o cordel de Garanhuns continuara vivo.
10) Já são três livros publicados, Meu Saudoso Garanhuns, Colégio Diocesano, um pouco de sua História e Garanhuns em Versos, Um Pouco da Sua História, lançado no ano passado durante as comemorações dos 130 anos de Garanhuns. O livro é uma obra em literatura de cordel, que além de contar a história da cidade, nos traz as datas importantes da cidade, as características geográficas, às atividades econômicas, culturais, infra-estrutura de serviços, personagens ilustres e um acervo de fotos antigas e atuais. O livro foi bastante elogiado por escritores e leitores pela sua dimensão paradidática e as riquezas de informações, o senhor fica gratificado em saber que seu trabalho alcançou as salas de aulas?
Falaê – Fico bastante feliz, pois sempre desejei fazer um livro que todos tivessem acesso a História de Garanhuns, principalmente com uma linguagem atrativa para os estudantes, principalmente num momento que há uma exigência para o estudo da História local, e vejo esse objetivo alcançado através dos convites que recebo para fazer palestras nas escolas e faculdades, e a recepção e homenagens dos alunos. É um desejo que foi alcançado não apenas em Garanhuns, mas em nossa região.
11) O senhor recebeu o Anum de Ouro e a medalha Cultural Monsenhor Adelmar, homenagem mais que merecida, não apenas pelos seus trabalhos artísticos, mas, sobretudo pela sua dedicação e persistência em divulgar a cultura de Garanhuns para o Brasil e o mundo. Como se sentiu ao receber essas homenagens?
Falaê – Já recebi várias homenagens, placas, diplomas, receber a medalha Cultural Monsenhor Adelmar (2000) foi emoção muito grande, o Anum de ouro (2007) confesso que eu não esperava esse momento, eu pensava que já estava esquecido (Risos).
12) O senhor indicaria algum artista que também seria merecedor de receber uma dessas grandes homenagens?
Falaê – Preto Limão, dona Quitéria cordelista que ainda não conseguiu publicar seus cordéis, os violeiros Adeilton, Senival Teixeira e caneca, professor Vilela, do reisado os mestres Benone e João Tibúcio, Zezé Marculino, o cordelista doutor Breno, O musico Zezinho de Garanhuns, professor Agostinho e tantos outros que fazem cultura em Garanhuns.
13) O senhor vem trazendo o reisado de volta a Garanhuns, reisado que era uma das tradições da nossa cidade, pelas várias apresentações que tenho visto o projeto vem conseguindo resgatar o essa Cultura popular?
Falaê – O reisado de Garanhuns tinha tradição, inicie no reisado em 1955 quando assisti a uma apresentação do reisado de mestre Candido sertanejo, o mestre Candio, resolvi então formar um grupo com garotos da minha idade no sítio Tiririca neste município, infelizmente não tenho registro fotográfico, mas ainda tem pessoas que se lembram. Resolvi então acordar o reisado de Garanhuns que estava adormecido e apresentá-lo no Festival de Inverno como meio de elevar a cultura da minha cidade, a partir dessa iniciativa surgiram vários outros grupos de reisados em Garanhuns e projeto para o futuro tornar Garanhuns a capital do reisado.
14) Gonzaga de Garanhuns também compositor de reisados e baião, conte para o falaê um pouco do seu trabalho com a música?
Falaê – Vou fazer uma retrospectiva de alguns desses momentos. Em 1982 através do LP Benditos e Reisados o qual gravei uma faixa fui convidado pela produção do Som Brasil apresentado por Rolando Boldrin para participar do programa. Em 1994 participei do MUSISESC com o baião Tributo a Zé Dantas, em 1995 participei do Festival Regional Alô Pernambuco com a música Reisado Pernambucano de minha autoria a qual gravei no LP Reisado Pernambucano com arranjo de Dalva Dinis e participação do violeiro Senival Teixeira. Tenho participações nos LP de Leonildo de Souza, Bendito do Padre Cícero e de Genivaldo Pereira cantando Mistura de Forró, a minha musica foi Gravada por Geraldo Silva, intitulada Bananau do Bastião. Algumas canções já foram gravadas por alguns artistas, a música Tique Taque do peito foi gravado por Verônica Campos, Zezinho de Garanhuns e Tarcisio Rodrigues, o baião chuva caída foi interpretada Florisval e agora uma das minhas composições despertou o interesse do conterrâneo Dominguinhos, cuja música é Tributo a Zé Dantas.
15) De Gonzaga de Garanhuns sempre esperamos novas produções. O que Gonzaga está preparando para 2010?
Falaê – Estou preparando um CD de reisados, outro livro cujo título será “Lampião no Imaginário Popular” e estou com dois reisados prontos, um com 45 componentes, já sendo este o maior reisado do Nordeste tendo o apoio do professor e coordenador do CRAS Romildo Peixoto e também da Prefeitura Municipal de Garanhuns, o segundo com 25 componentes tendo o apoio do CRAAPI e estou formando outro reisado com alunos do Colégio Municipal Padre Agobar Valença com o apoio da Diretora Socorro e da professora Julia e em Triunfo estou também com um reisado com os alunos do PETI iniciado em 2009 contando com ajuda do violeiro Senival Teixeira.
16) Uma mensagem de Gonzaga para os artistas de Garanhuns.
Falaê – Que todos os artistas de Garanhuns lutem pelo desenvolvimento de nossa cultura, organizem seus projetos buscando o apoio da FUNCULTURA e da FUNDARPE, mas não visem o interesse pessoal, mas que visem o teor, a essência da nossa cultura que é a cultura do nosso povo, não somos nos que fazemos essa cultura, mas sim o povo de Garanhuns e região.
Luiz Gonzaga de Lima (Gonzaga de Garanhuns)
Avenida Júlio Brasileiro, Bairro – Heliopólis
Garanhuns – Pernambuco
Fone para contato: (87) – 9104-6084
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